Page 129 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
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que não são da família. A gente coloca profissional da família e, se precisar, coloca
profissional de fora também. Qual é o melhor: o da família ou o empregado? É igual,
porque a “capacidade” não escolhe se é da família ou não é, a “dedicação” não escolhe. A
diferença que tem é que o da família, às vezes, decide mais rápido, entendeu? O outro não
tem ainda autorização, a não ser que seja uma grande firma que já delineou parâmetros
tão grandes que já ultrapassa o que o da família mesmo faria, para outro fazer. Às vezes,
muitos profissionais que vêm de outro lugar são melhores, são competentes. O da
família, para ser um profissional bom, ele tem que saber avaliar e, se for o caso, colocar
um melhor que ele, pois, normalmente, ele quer o melhor para a empresa. O bom não
está na família, o bom está na cabeça da pessoa mesmo.
É uma ótima resposta. Muito boa! Estamos agora chegando ao final da entrevista. Desde
a feitura do filme JOÃO, me encontro com o seu irmão com certa regularidade. É notório
o carinho e o respeito dele para com o senhor e percebo em suas palavras a recíproca.
Seu irmão, João Claudino Fernandes, qual a importância dele na trajetória, na sua vida?
(SR. VALDECY FICA PENSATIVO, REVELA UMA ALEGRIA NOS OLHOS) Às vezes, é muito curioso...
É muito comum a firma se desentender. É muito comum, não é? Nós nos separamos não
porque houve desentendimento. Pelo contrário, na separação o João ainda insistiu para
eu ficar sócio nas fábricas. Fazer a separação da parte comercial, mas ficar nas fábricas.
Eu fiquei somente na de bicicletas (Houston do Nordeste S.A.). Achei por bem, naquela
ocasião, já estava longe, que ficasse assim mesmo. Mas nós separamos e não separamos
(RISOS). Não nos separamos nunca, não é? Então, houve sempre a convivência. Tinha
gente que falava “essa firma é boa, porque são dois irmãos unidos, não brigam” e João,
que gosta de brincadeira, dizia: “Se briga, ninguém vai saber” (SR. VALDECY DÁ UMA BOA
RISADA). Essa era a resposta dele! Mas não tem briga mesmo. João sempre trabalhou
para o bem da firma. Quando ele morava em Cajazeiras, ia para Bacabal e sempre
pensava na firma, sempre trabalhava para a firma, porque a firma era de nós dois, do
pai e de mais uma irmã. Então, tudo que ele fazia... até, por exemplo, se vendesse um
carro... Eu comprei o primeiro carro, que era um jipe, comprei por um preço, na outra
semana um indivíduo propôs dez mil cruzeiros de lucro e eu vendi o carro. O carro
era meu, que eu estava usando, e eu vendi para a firma ter aquele lucro dos dez mil
cruzeiros. Tudo foi para a firma. A sociedade boa é a sociedade em que os sócios não
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