Page 22 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
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universitário, eu fui morar na casa deles. Além de tio e tia, ele era meu padrinho e ela, minha
                            madrinha. Devo acrescentar ainda que me receberam como um filho.



                            Mais do que ensinar pelas histórias contadas, tio Valdecy me ensinava pelo exemplo. Olhando
                            para ele, tão discreto e perseverante, eu me pegava pensando o quanto ele enfrentou ao deixar o
                            Nordeste e ter a ousadia de ir negociar no centro do país, quando as distâncias físicas, e mesmo

                            emocionais, eram tão grandes.


                            Com ideias avançadas, visionário, tio Valdecy enxergava longe. Suas lições não eram impostas,
                            mas distribuídas com delicadeza a quem estivesse atento. Junto com meu pai, construiu uma

                            história da qual nos orgulhamos. Tornaram-se grandes empresários, cresceram, modernizaram
                            negócios. Fizeram isso sem nunca esquecer suas raízes e sempre preocupados e respeitosos com
                            todos: amigos, parceiros de negócios e milhares de colaboradores nas diversas empresas que
                            foram surgindo. O mesmo respeito eles dedicavam às cidades e populações aonde chegavam.

                            Deixaram um legado bonito, de responsabilidade, que nos comprometemos em preservar.


                            Quando papai pediu ao Douglas para entrevistar o tio Valdecy em São Paulo, imagino que
                            ele, na verdade, já pensava um dia publicar essa entrevista em livro. O próprio Douglas havia

                            gravado entrevistas com papai em diversos momentos e essas entrevistas sinalizavam o mesmo
                            potencial de publicação. Portanto, sabia que Douglas conseguiria estabelecer a mesma ponte
                            de confiança com seu irmão. Ademais, papai conhecia bem o tio Valdecy. Tratava-se de um
                            homem recatado, discreto e, devo dizer, um tanto averso a entrevistas.



                            Vale aqui observar que apenas na quarta viagem a São Paulo tio Valdecy finalmente aceitou
                            conceder a entrevista. Nas três tentativas anteriores, Douglas voltava a Teresina e papai insistia:
                            “- Continue tentando, você vai conseguir”. E, quando conseguiu ser recebido, tampouco a ponte

                            de confiança foi estabelecida facilmente. Tio Valdecy propôs apenas 15 minutos de entrevista,
                            pois tinha, inclusive, um medicamento a tomar neste ínterim. Douglas colocou o horário do
                            medicamento no despertador do seu celular e pediu para não se reterem ao tempo. Como havia
                            dito ao papai, repetiu: “não sou um jornalista e sim, um documentarista. Gosto de conversar,

                            apenas. Se tiver alguma resposta que o senhor queira refazer, não há problema; se houver alguma
                            pergunta à qual o senhor prefira não responder, também não se preocupe, e mesmo que, ao







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