Page 103 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
P. 103
setor, a proporção que foi aumentando a venda e foi facilitando mais, passou a ter a
necessidade de se fazer colchão de mola lá. Eu resolvi botar uma fábrica de cama, tipo
faixa azul, que era uma cama pequenininha de madeira torneada que existia no passado,
fabricada por uma firma muito antiga, talvez uns oitenta ou cem anos, do começo do
século passado. Acho que você já viu esse tipo de cama.
Sim, lembro dela.
Lá, na Socimol, tem uma original, que fabricava lá. Nessa ocasião, eu tinha uma loja
de atacado em Recife – já não estava mais em Cajazeiras, morava em Recife – e lá eu
arranjei uma pessoa, que tinha trabalhado nessa fábrica, para nos ajudar a botar uma
fabricazinha de cama em Bacabal. O negócio não era colchão, era cama! Ele, então, foi
trabalhar lá. Eu passei a comprar madeira. Era um kit de, por exemplo, cem camas no
caminhão, elas vinham todas desmontadas e o arame para fazer as molas, com uma
máquina pequenininha que fazia mola manual, entendeu? Mas não era mola zigue-
zague, era uma mola pequenininha, para colocar nas camas. A gente comprava as molas
feitas, umas molas pequenininhas, e fazia o complemento. A mola era para montar a
estrutura de onde iria botar o colchão, para ficar flexível. Então, a mola não era essa
que a pessoa deitava em cima. Ela deitava em cima do colchão, que tinha uns arames
por baixo, e nas pontas, ao redor, umas molinhas segurando aquilo. Naquela ocasião,
o colchão bom, há 50, 60 anos atrás, era de crina vegetal, que é um produto que só
tem no Rio Grande do Sul, no Brasil. É silvestre, uma coisa natural, não é plantado, ou
cultivado. Parece que não é cultivado, eu não tenho certeza, Félix (Félix Raposo, Diretor
da Socimol) é quem sabe disso, porque ele tinha muito negócio para lá com esse pessoal.
É muito bom para colchão, ele tem um molejo que foi invenção de quem pode muito,
para poder inventar um troço daquele para servir de mola, viu? Porque o homem não
iria fazer. Ele não consegue juntar, tinha um molejo mesmo. Félix, talvez, tenha uma
amostra desse material lá.
Eu vou pedir para ele, gostaria de conhecer de perto.
Pois bem, como tinha a cama, dava para vender também o colchão, aí podia fazer o
colchão. E, agora, vamos ao colchão. Precisava aprender a fazer. Eu vim a São Paulo
e procurei comprar umas máquinas. Numa fábrica usada, uma pessoa ofereceu umas
VALDECY ENTREVISTADO POR DOUGLAS MACHADO 103

