Page 71 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
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apesar dela nunca ter costurado (RISOS), mas havia esse costume. Ela se inscreveu em
                                                       três lojas da concessionária Singer, uma em Crato, uma em Fortaleza e uma na Paraíba...

                                                       acho que em João Pessoa, talvez, eu não me lembro. Um dia, ela recebe um telegrama
                                                       que duas das máquinas chegaram e que ela mandasse o dinheiro: três mil e quinhentos
                                                       cruzeiros.



                                                       E o senhor lembra até o valor!
                                                       Me lembro! Foi um fato muito importante. Uma pessoa que nem costura comprando
                                                       duas máquinas. Ela esperou vários meses por essa máquina, que ainda vinha dos
                                                       Estados Unidos. Quando chegou, ela ficou com as duas. Muito bem! Mas, em seguida,

                                                       nesse período, houve um caso curioso. Eu vim a São Paulo, a primeira vez, em 1954,
                                                       procurei novas fábricas de tecidos, não procurei de máquinas, nem sabia dessa falta de
                                                       máquina no Brasil. Eu não estava atento para esse lado da atividade, e sim de tecido.
                                                       Acontece que, naquela época, tecido era uma atividade importante, e a cidade de

                                                       Recife era um centro comercial, atacadista, muito importante, que não permitia que
                                                       os representantes das fábricas, ou as fábricas, vendessem para comerciante no interior,
                                                       mesmo que fosse grande. Eles tinham um monopólio, muita mercadoria importada,
                                                       eles eram importadores, também, de tecido. Eu vim para São Paulo, e toda fábrica

                                                       que eu ia comprar era bloqueada, não podia vender para o interior. Poucas venderam,
                                                       mas quando Recife tomou conhecimento – talvez não aconteceu só comigo, pode ter
                                                       acontecido com outros que eu não sei –, interferiu nas fábricas e não deixou ninguém
                                                       entregar a mercadoria, e eu não recebi nada. Mas, no outro ano, o João foi para um

                                                       congresso nacional que se realizava no Rio de Janeiro. Certamente, ele foi, também,
                                                       para passear. Foi para o congresso e conheceu o Rio de Janeiro, São Paulo etc. E ativo
                                                       como ele era no comércio, ele foi olhar as coisas, descobrir. Mas eu achei que ele não
                                                       foi muito para o lado do tecido, ele foi para todo lado. Se mexeu para todo lado! E

                                                       comprou máquinas de costura, mas comprou poucas, umas quinze máquinas. Voltando
                                                       um pouco no tempo, com a minha viagem do Rio, eu resolvi botar uma camisaria para
                                                       vender camisas boas, porque lá, em Cajazeiras, não havia uma loja que se dedicava a
                                                       isso. A pessoa mandava fazer de encomenda, mandava a costureira fazer, mas para já

                                                       ter feita, para ver a confecção feita, boa, não havia. Então, eu idealizei botar uma loja de
                                                       camisa boa e, inclusive, fabricar camisas. A camisa eu não comprava feita, fazia todas.







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