Page 75 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
P. 75
Fazia, sob encomenda, um pouco, mas fazia muito mais para colocar na prateleira para,
quando o freguês chegar, ter a mercadoria boa, de linho belga, de linho irlandês, coisa
boa e bem feita. Naquele trabalho que nós fazíamos para mascate, eu constatei que
havia bastante costureira boa que precisava de serviço. Tinha uma mulher, que veio
de Pernambuco – parece que o marido dela trabalhava na rede ferroviária que ainda
havia em Cajazeiras – que era muito boa, aí eu passei a botar essa mulher para tomar
conta, e fazia, realmente, coisa boa. Mas um dia chegou um freguês, um homem muito
importante na cidade, que tinha empresa de ônibus, foi a primeira empresa de ônibus
de lá, e era comerciante de peças de automóvel, que resolveu fazer um pijama e uma
camisa de linho. A costureira errou a medida – o homem era grande, um homenzarrão
– e fez bem pequenininha. Fez uma camisa número dois para um homem que usava
cinco (RISOS). Quando ele voltou, entrou na loja, não cumprimentou, não disse nada.
Só fez reclamar brutamente, porque tínhamos feito aquelas confecções com medidas
tão erradas. Eu disse: “Sr. João, isso foi um erro, tenha paciência”. Ele puxando a camisa
para rasgar, com raiva, mas não conseguia rasgar a camisa. “Sr. João, não precisa fazer
tanta força, isso aqui nós colocamos na prateleira e vendemos, não há necessidade.
Foi um erro. A gente faz outra no tamanho certo”. Eu estava na loja, na hora, e ele não
conseguiu rasgar, aí rasgou o pijama, voltou para tentar rasgar a camisa e não conseguiu.
Eu dei uma tesoura, “é melhor o senhor cortar”. O homem zangou-se, não pegou nem a
tesoura e foi embora, entendeu? Com isso, eu desanimei, desisti da cadeia, mas desisti
não só por isso, não foi o motivo principal, ele foi o que culminou com a decisão final,
mas eu já estava achando ruim.
Mas... desistiu achando ruim a confecção?
Não por isso, eu não estava achando ruim a confecção, estava achando bom era a venda
de máquina, porque João chegou com as máquinas nessa mesma época, as quinze
máquinas, e vendeu rápido. E eu tinha trazido dez máquinas de João Pessoa para a
camisaria. Enquanto João viajou para São Paulo e Rio de Janeiro, eu estava lá em João
Pessoa e comprei dez máquinas de lá. E, quando as máquinas chegaram, eu vendi
logo quatro na calçada, antes de botar para dentro. A falta de máquina era tão grande
que foram vendidas tudo em um dia, quatro eu vendi logo e as outras seis coloquei
para dentro, mas foi embora logo, e não foi utilizada para confecção. Ora, eu já não
VALDECY ENTREVISTADO POR DOUGLAS MACHADO 75

