Page 81 - Valdecy Claudino (Entrevistado por Douglas Machado)
P. 81

tinha um jipe. Perguntava para todo mundo... e ia anotando: fulano de tal, fulano de tal.
                                                       Eu selecionava e vendia. Se aquele selecionado não quisesse comprar, eu não vendia a

                                                       ninguém, entendeu? Então, o João foi para o Ceará. Eu escolhi, na cidade de Lavras da
                                                       Mangabeira, o melhor freguês. Era um homem meio político e era comerciante. Era um
                                                       comerciante de destaque. Tudo, naquele tempo, era loja pequena, mas era de destaque.
                                                       E eu ofereci as máquinas a ele, que eu já tinha feito a investigação, era o melhor, mais

                                                       sério... Era o que eu queria. Vicente Favela. Aí o Sr. Vicente comprou as máquinas.
                                                       O meu sistema era mais interessado em o freguês ficar com a mercadoria, comprar
                                                       e ficar revendendo, mas o Sr. Vicente era difícil, porque ele só queria comprar muito
                                                       barato. Ele dizia: “O dinheiro está aqui no cofre, faça o preço barato que eu compro”.

                                                       “Sr. Vicente, não é isso. Eu não quero vender à vista, é qualquer modo. O senhor pode
                                                       comprar à vista ou consignação, ou a prazo. Não tenho preocupação com isso. Quero
                                                       que o senhor compre e compre a quantidade que quiser”. Bom, ele comprou, mas era
                                                       muito comedido.



                                                       O senhor falou que o Seu João deu continuidade a essas viagens. Vicente Favela não é o
                                                       pai de D. Socorro (Maria Socorro de Macêdo Claudino)?
                                                       Isso, na outra viagem foi João, aí João, além de vender as máquinas, arranjou a noiva

                                                       (RISOS), Socorro de Macêdo, que era filha dele, não é? Era uma moça preparada, educada,
                                                       tinha um cartório. Então, ele casou com ela. E continuou a trabalhar nas outras cidades,
                                                       vendeu também. Isso foi em 1957.



                                                       ...1957? Vocês estavam próximos da grande seca, não é isso? Estava chegando a crise...
                                                        É o seguinte, logo, em seguida, veio a seca da Paraíba.



                                                       ...uma seca muito forte.
                                                       Muito forte! Nos meses de março, abril e maio, nós vendemos quatro máquinas de
                                                       costura.  Os  três  meses  juntos,  vendemos  quatro  e  recebemos  cinco  de  devolução,
                                                       de gente que não poderia pagar etc. Então, o estoque aumentou. Parou o comércio.
                                                       A dificuldade de apurar o dinheiro era grande até para pagar os  empregados. Em

                                                       uma filial que nós tínhamos em Uiraúna, só mandávamos o dinheiro para pagar os
                                                       funcionários, e eram poucos, entendeu? Então, foi uma crise muito grande. Precisamos







                                                                                                 VALDECY ENTREVISTADO POR DOUGLAS MACHADO                   81
   76   77   78   79   80   81   82   83   84   85   86